quarta-feira, 6 de agosto de 2014

6 de Agosto - Transfiguração do Senhor

A festa da "Transfiguração do Senhor" acontece no mundo cristão desde o século V. Ela nos convida a dirigir o olhar para o rosto do Filho de Deus, como o fizeram os apóstolos Pedro, Tiago e João, que viram a Sua transfiguração no alto do monte Tabor, localizado no coração da Galiléia. O episódio bíblico é relatado distintamente pelos evangelistas Mateus, Marcos e Lucas. 

Assim, segundo São Mateus 9,2-10, temos: "Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto monte. E transfigurou-se diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes e de uma brancura tal, que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia fazer assim tão brancas. Apareceram-lhes Elias e Moisés, e falavam com Jesus. Pedro tomou a palavra: "Mestre, é bom para nós estarmos aqui; faremos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias". Com efeito, não sabia o que falava, porque estavam sobremaneira atemorizados. Formou-se então uma nuvem que os encobriu com a sua sombra; e da nuvem veio uma voz: "Este é o meu Filho muito amado; ouvi-O". E olhando eles logo em derredor, já não viram ninguém, senão só a Jesus com eles. Ao descerem do monte, proibiu-lhes Jesus que contassem a quem quer que fosse o que tinham visto, até que o Filho do homem houvesse ressurgido dos mortos. E guardaram esta recomendação consigo, perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos".

A intenção de Jesus era a de fortalecer a fé destes três apóstolos, para que suportassem o terrível desfecho de Sua paixão, antecipando-lhes o esplendor e glória da vida eterna. Também foi Pedro, que depois, recordando com emoção o evento, nos afirmou: "Fomos testemunhas oculares da Sua majestade" (2 Pd 1, 16).

O significado dessa festa é, e sempre será, o mesmo que Jesus pretendeu, naquele tempo, ao se transfigurar para os apóstolos no monte, ou seja, preparar os cristãos para que, em qualquer circunstância, permaneçam firmes na fé no Cristo. Melhor explicação, só através das inspiradas palavras do Papa João Paulo II, quando nesta solenidade em 2002, nos lembrou que: "O rosto de Cristo é um rosto de luz que rasga a obscuridade da morte: é anúncio e penhor da nossa glória, porque é o rosto do Crucificado Ressuscitado, o único Redentor da humanidade, que continua a resplandecer sobre nós (cf. Sl 67, 3)". 

Somente em 1457, esta celebração se estendeu para toda a cristandade, por determinação do Papa Calisto III, que quis enaltecer a vitória, do ano anterior, das tropas cristãs sobre os turcos muçulmanos que ameaçavam a liberdade na Europa.


A transfiguração em Cristo faz do cristão um homem melhor


Diante do “escândalo” da cruz, a Palavra de Deus nos apresenta o Cristo glorificado por meio de uma magnífica teofania, isto é, a manifestação de Deus. Revela-nos Sua glória para dar sentido à morte de Jesus na cruz. Cristo levou Seus discípulos escolhidos para uma alta montanha e se transfigurou diante deles. Suas vestes se tornaram brancas e brilhantes. Apareceram-lhe Moisés e Elias, símbolos da lei e dos profetas, síntese da antiga aliança. Jesus condensa em si a lei e a profecia. Ele, em seu Sangue, sela a nova aliança (Lc 22,20). Nesse momento, “entraram na nuvem”, o que significa a presença de Deus. O Pai apresenta Jesus aos discípulos como Seu Filho amado.
O Evangelho da transfiguração liga-se à Paixão, pois tira os discípulos do escândalo da cruz, dando-lhes a visão da futura glorificação pascal. Refletindo o tema da aliança e transfiguração, participamos desta realidade. A obediência de Jesus Lhe deu a vitória. A meta do cristão é a transfiguração de sua fragilidade pela obediência da fé.
Somos transfigurados por Jesus a partir do batismo e da presença do Espírito em nós. Somos revestidos d’Ele. Para chegar a isso, somos convidados a subir o monte que é Cristo. Estando na presença de Deus pelo amor, ouviremos as palavras do Pai: “Este é meu Filho amado, escutai o que Ele diz”. O Filho diz as palavras que ouviu do Pai.
O episódio da transfiguração de Jesus deixa a mensagem que São Paulo, em plenitude, viveu, tendo podido assegurar: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Trata-se da mudança radical do cristão no modelo divino. Imitação perfeita do Filho de Deus, cujo conhecimento não deve ser meramente especulativo e cujo amor tão pouco não pode ser apenas afetivo.
Tanto os estudos sobre a pessoa de Cristo como a fé no Redentor necessitam estar unidos às obras nas quais se reflete a personalidade de cada um. Conhecimento prático, amor operativo. Ele é a causa eficiente da regeneração do batizado e a causa exemplar de Sua santificação, modelo de todos os que se dizem Seus discípulos.
Cristo se fez um modelo acessível e atraente, perfeito e abrangente. Os cristãos podem transfigurar sua vida se identificando com Ele: pobres, ricos, sábios e ignorantes – e isto em qualquer circunstância – dado que Ele a todos resgatou, deu a vida sobrenatural e lhes comunicou Seus dons celestiais. Ele manifesta uma ética geral e uma disciplina universal de conduta para que se proceda como Ele agia, para que se viva como Ele vivia, para que se sofra como Ele sofria. Ele quer se fazer presente no mundo por meio de Seus discípulos. O Apóstolo dizia: “Sede meus imitadores como eu o sou de Cristo” (1Cor 4,16). Deste modo, o fiel se torna a imagem viva do seu Senhor.
Jesus, sempre presente nas palavras, nas obras, no coração e na mente de cada um. Cristo, o ideal da vida do batizado, o objeto de sua aspiração, o ímã de seu coração. Para isso é necessário que cada um se interrogue a cada instante: “Que pensaria Jesus neste momento? Como Ele faria esta tarefa? Que quer Ele de mim aqui e agora? Como posso agradá-Lo neste momento?”
Dá-se então “o vir a ser” do fiel no seu Salvador numa total identificação com Ele, no gotejar da renúncia a cada minuto. O próprio Cristo afirmou: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 4,14). Não somos o fogo que deve arder nesta Terra, mas devemos ser os propagadores de Sua chama de amor, dado que Ele é a fornalha ardente de caridade e veio para colocar chama na Terra (Lc 12,49).
Grandeza e responsabilidade do cristão. Depende de cada um fazer da vida uma interrogação, um chamado sempre suscetível de ser ouvido por todas as testemunhas que O veem. É a imponderável ação de uma alma sobre a outra. É se transfigurando em Cristo que o cristão pode tornar os homens melhores. Com Seu exemplo, mesmo sem palavras, o verdadeiro seguidor de Cristo já torna Seu irmão melhor.
Onde uma pessoa boa e submissa a Deus vive, reza, sofre, trabalha, há sempre uma lareira de calor sublime que aquece, arrasta nos eflúvios das mensagens celestes.
Não basta “estar” cristão, é preciso “ser” cristão transfigurado no modelo que é Cristo Jesus.
Padre Bantu Mendonça
Cancão Nova


Oração

Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração de vosso Filho confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias, e manifestastes de modo admirável a nossa glória de filhos adotivos, concedei aos vossos servos e servas ouvir a voz do vosso Filho amado, e compartilhar da sua herança. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

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